10 de jun. de 2009

Hummer, o símbolo de um contrassenso

Hummer, o símbolo de um contrassenso
por Lúcia Camargo Nunes.



Na semana em que a GM anunciou seu pedido de concordata, a montadora confirmou que chegou a um acordo preliminar da venda da marca Hummer para a companhia chinesa Sichuan Tengzhong.

A Hummer ficou famosa no início dos anos 90 com o modelo H1, utilizado pelos EUA durante a Guerra do Golfo, quando a marca ainda pertencia à empresa AM General. E continuou atuando em guerras (Afeganistão, Iraque). Depois que a GM adquiriu a marca, em 2000, passou a produzir também o H2, versão menor, mas ainda assim grandalhona, beberrona e com fama de carro de “bad boy”. Em 2005, lançou nos EUA o H3 com a intenção de melhorar sua imagem e oferecê-lo a preços mais acessíveis, pelo menos aos americanos.

Tive a oportunidade de dirigir por alguns dias um H3, na região de Boston, EUA. Foi marcante porque lembro-me o quanto chamou atenção pilotar aquele carro que supostamente já era conhecido pelos americanos. Na costa leste, pelo menos, não era muito. Todos faziam comentários - do cobrador do pedágio aos vizinhos da casa onde fiquei hospedada num bairro residencial, onde a maioria dirigia sedãs como Corolla e Civic. Todos queriam vê-lo, chegar perto, fazer uma piada. "Como você teve coragem de comprar um carro desses?" Naquela época, final de 2005, o preço da gasolina havia subido assustadoramente. Lembro-me de sofrer ao levá-lo a um posto de gasolina e gastar muitos dólares para abastecê-lo.

E dizer que o H3 nem é tão grande. De comprimento se iguala a uma Blazer (4,74 metros). De largura, 2,17 m, tem as mesmas dimensões de um Grand Cherokee. O conjunto da obra é que o faz diferente: desenho quadrado, grade cromada imensa, janelas pequenas e altas (que prejudicam muito a visibilidade). O desempenho é arisco: com o motor de 5 cilindros 3.5 e 220 cv, o jipão demora para embalar, mas com a velocidade lá em cima merece cuidado, até porque não é fácil pará-lo.

Preço? Na época, lá nos EUA, custava em torno de US$ 35 mil. Para se ter ideia, um RAV4, jipe médio da Toyota, saía por US$ 20 mil e um Corolla, US$ 15 mil. Não era impossível, mas caro.

Há 4 anos o Hummer já carregava a fama de grandalhão, beberrão, carro de bad boy, inviável em tempos de gasolina cara, etc. Imagina atualmente, com o declínio da GM e as preocupações com o meio ambiente?

Para a GM, a venda da Hummer, mais do que uma parte para sanar sua crise financeira, é uma solução moral para se livrar de uma marca que representa um forte contrassenso.

Lúcia Camargo Nunes/AE

H3: quadrado, beberrão, bruto. No fundo, só serve para chamar atenção

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