30 de jun. de 2010

Carros elétricos e híbridos dividem opiniões e enfrentam dificuldades no Brasil.

Com o etanol como alternativa, veículos elétricos ainda "engatinham" no Brasil.

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Na Europa, os veículos híbridos e elétricos são vistos como solução ideal – e talvez única – de modelos sustentáveis para o futuro. Já no Brasil, o carro movido a eletricidade divide opiniões. O próprio governo brasileiro suspendeu recentemente um pacote de incentivos aos carros elétricos. Há o temor – velado, talvez – que os modelos movidos por baterias possam prejudicar a comercialização e a competitividade do etanol brasileiro. O fato é que o país desenvolveu uma tecnologia alternativa aos combustíveis fósseis que tem funcionado bem. E, como o Brasil não não é um desenvolvedor de tecnologia elétrica, e sim um comprador, parece não fazer muito sentido, pelo menos por enquanto, investir em outra solução que não seja o etanol e o biodiesel.

A importância dos veículos elétricos a longo prazo é inquestionável. Tecnologias alternativas aos carros movidos por derivados do petróleo são necessárias para frear a poluição e acabar com a dependência de recursos esgotáveis. Nesta "batalha", as montadoras investem nos veículos elétricos e apostam nas variantes híbridas como forma de "transição". A PSA Peugeot Citroën, por exemplo, acredita que 4,5% dos automóveis vendidos nos principais mercados da Europa em 2020 serão movidos a eletricidade. "Hoje, existe um contexto positivo para os elétricos: busca pela redução de emissões, alta do preço do petróleo, novas tecnologias de baterias e demandas dos consumidores no que diz respeito à mobilidade", defende Ayoul Grouvel, Diretor Responsável Mundial de Veículos Elétricos da PSA Peugeot Citroën.

Mesmo em desenvolvimento, a tecnologia elétrica encontra uma série natural de obstáculos, principalmente em mercados emergentes como o brasileiro. O maior deles é o preço elevado dos elétricos. "De um modo geral, os elétricos têm um custo inicial alto pela bateria, tecnologia envolvida e mecânica complicada", reconhece Pietro Erber, diretor-presidente da ABVE – Associação Brasileira do Veículo Elétrico. Mesmo os modelos híbridos custam mais que a variante movida a combustão. Exemplo do Porsche Cayenne S e sua versão S Hybrid, que custam respectivamente 72.686 euros e 78.636 euros na Europa, diferença de 5.950 euros, cerca de R$ 13 mil.

Com alto custo inicial e valores operacionais mais baixos, uma solução para os híbridos seria atuar em um segmento como o de transportes urbanos. "É preciso focar sua utilização em nichos específicos e de alta utilização, para compensar a compra, ou simplesmente o consumidor compra outro modelo por ser mais barato", afirma Francisco Emílio Baccaro Nigro, assessor técnico do Governo de São Paulo. "Este mercado deveria começar por veículos de serviço, de administrações e alugados", sugere Jean Pierre Lamour, diretor técnico do Michelin Challenge Bibendum, evento mundial de sustentabilidade cuja 10ª edição, no início de junho, ocorreu no Rio de Janeiro.

Outro problema é o custo da energia. No Brasil, o preço varia de acordo com a distribuidora encarregada de retransmiti-la. Em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, o preço é de respectivos R$ 0,31 e R$ 0,29 por kWh, chega a custar R$ 0,42 por kWh na Usina Hidroelétrica Nova Palma, no Rio Grande do Sul. Em média, a energia no Brasil custa R$ 0,32 por kWh, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel. Já nos Estados Unidos, onde cada estado determina o preço que será cobrado pela energia, o custo médio da energia registrado pelo U.S. Energy Information Administration é de US$ 0,09 por kWh, o equivalente a R$ 0,15 – menos que a metade do cobrado por aqui. "A energia elétrica no Brasil em relação aos Estados Unidos é bem mais cara, assim como o combustível. Proporcionalmente, a energia ainda consegue ser mais cara ainda", confirma Nigro.

Mesmo que o carro 100% elétrico seja pouco adequado à realidade brasileira, há por aqui algumas iniciativas nesta área. A Fiat projetou em 2006 o Palio Elétrico, criado em parceria com a Hidrelétrica de Itaipu, era equipado com propulsor de 15 kW, gerava cerca de 20 cv e tinha autonomia de 120 km. Outro projeto desta "joint venture" foi o Palio Weekend Elétrico. Mesmo assim, os elétricos da Fiat estão longe de circular nas ruas brasileiras graças, novamente, ao preço elevado. "Uma Palio Weekend parte de R$ 41.330. Já uma elétrica custaria ao redor de R$ 150 mil. Isso acontece por causa do custo da bateria e do motor, que são importados, e pelo fato de carros elétricos estarem na fatia de maior taxação de impostos no Brasil, que é igual a de veículos acima de 2.0", justifica Carlos Henrique Ferreira, consultor técnico da Fiat.

Estudos europeus ainda apontam que os modelos movidos a baterias têm seus preços depreciados muito rapidamente. Chegam a perder 90% de seu valor inicial em apenas cinco anos. O motivo seria o desgaste natural das baterias ao longo do tempo. Estima-se que o elétrico Nissan Leaf deverá custar menos de 4 mil euros em cinco anos, cerca de 10% do valor inicial atual do modelo. E até mesmo o Brasil já conta com uma opção de veículo 100% elétrico. O pequeno Reva-i fabricado na Índia e importado pela ElecTrip. Equipado com motor de 13 kW, o compacto tem autonomia de 80 km e pode alcançar 80 km/h. Seu custo é de aproximadamente R$ 72 mil. Preço similar ao de um sedã médio completo, mas que, quem sabe, pode atrair consumidores atrás de uma "atitude ecológica".

Instantâneas
# Em sete estados – Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sergipe – os veículos movidos a motor elétrico são isentos do IPVA.
# O Programa de Restrição à Circulação de Veículos Automotores na Região Metropolitana da Grande São Paulo, mais conhecido como rodízio de veículos, não se aplica a veículos elétricos.
# Os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul têm alíquota do IPVA diferenciada para elétricos.
# Já em 1974, a brasileira Gurgel Motores S.A. apresentou estudos de um modelo subcompacto elétrico chamado Itaipu.
# Entre os modelos da BMW, a diferença do Série 7 ActiveHybrid 7 e do 740i a gasolina na Europa chega a 26.600 euros, cerca de R$ 58 mil.
# Segundo a OICA – Internacional Organization of Motor Vehicle Manufacturers –, o transporte rodoviário é responsável por 16% das emissões de CO2 no planeta.

Ainda distantes

Apesar de veículos 100% elétricos ainda não serem uma alternativa viável para o mercado brasileiro, a variante híbrida começa a ser uma realidade por aqui, assim como em grande parte do mundo. O primeiro automóvel equipado com esta tecnologia a ser vendido no Brasil é o Mercedes-Benz S 400 Hybrid, onde o motor 3.6 V6 a gasolina trabalha em conjunto com um motor elétrico de 20 cv. O que garante, segundo a montadora, um consumo médio de combustível de 12,66 km/l. O preço é elevado, como não poderia deixar de ser para um modelo Mercedes. O S400 Hybrid parte de R$ 444.963.

O Toyota Prius, o mais famoso e bem-sucedido híbrido do mundo, é outro que deve chegar às ruas brasileiras. O modelo, equipado com motor 1.8 a gasolina de 98 cv e com um propulsor elétrico de 80 cv, já está sendo fabricado no México, país que tem acordo alfandegário com o Brasil, que aproxima o modelo do mercado brasileiro. Por aqui o Prius deve custar entre R$ 70 mil e R$ 80 mil, disputando mercado com versões top de sedãs médios.

O Salão do Automóvel de São Paulo, que acontece em outubro, mostrará outros modelos que podem vir a ser comercializados no Brasil. Estão cotados para vir, entre outros, carros como BMW ActiveHybrid 7, Porsche Cayenne Hybrid, Nissan Leaf, Peugeot 3008 e BB1, entre outros. Os híbridos tendem a estar cada vez mais presentes nas ruas de todo o mundo. Hoje esta tecnologia está sendo desenvolvida até mesmo por marcas premium e esportivas como Jaguar – XJ híbrido, previsto para 2013 ou 2014 –, BMW – Série 5 e Série 3 - e Ferrari – 599 GTO, em 2012 ou 2013.

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