24 de nov. de 2010

Levamos o Ford Ka à Oficina.

Nova geração é melhor que anterior, mas tem defeitos antigos
  
 
O Ford Ka 1.0 flex produzido a partir de 2008 chegou com a responsabilidade de substituir a primeira geração muito elogiada por seus proprietários devido ao seu interessante visual e prazer ao dirigir. O carro era “divertido”, como diziam algumas revistas do segmento, devido às respostas rápidas da direção e ótima sensação de controle do carro. O novo Ka teve significativas melhorias, o carro cresceu, a suspensão se tornou ainda melhor, porém no quesito manutenção manteve os mesmos problemas que falaremos a seguir.

O tamanho ajudou no volume do porta-malas, que agora pode carregar bagagens, sendo que anteriormente levava no máximo miudezas, e no espaço interno, principalmente traseiro, que abriga duas pessoas de 1,90 com mais tranquilidade para a cabeça, apesar de a caixa de roda diminuir o espaço para os quadris. O estepe se manteve no mesmo lugar e continuaram as queixas de facilidade de furto, apesar da Ford ter reforçado a estrutura do suporte.

O Ford Ka da nova geração ainda aparece pouco nas oficinas, mas quando aparece é quase sempre pelos mesmos motivos. Vejamos agora por sistemas quais são os pontos que exigem frequente manutenção e as soluções apresentadas pelo conselho editorial e membros do fórum Oficina Brasil.

Habitáculo

O habitáculo, que desde novo já não é silencioso devido à falta de um isolamento acústico eficiente, apresenta barulhos provenientes do suporte do estepe ou quando o acabamento das portas e porta malas começam a ficar folgados, exigindo um exercício de paciência para encontrar os pontos onde ocorrem os barulhos.

O conselheiro Eduardo Topedo, da Ingelauto, informou que já presenciou um caso onde a solda na região do para lama se quebrou ocasionando estalos parecidos com os provocados por coxim danificado. O sistema de ar quente pode parar de funcionar, situação onde conselheiro Sérgio Torigoe recomenda inspeção do funcionamento da válvula solenóide, caso esteja em ordem. Sérgio diz já ter precisado substituir todo o painel do comendo de ventilação.

Direção

A caixa de direção hidráulica é proveniente da EcoSport, que recebeu algumas críticas quanto a apresentar folgas e segundo o conselheiro Aleksandro Viana, é de suma importância fazer o alinhamento a cada 10 mil km para evitar sobre esforços nas buchas de bandeja e braços axiais da caixa.

Suspensão

Aqui está a maior modificação em relação ao antigo Ford Ka, a parte da frente do monobloco é derivada do Fiesta, e como no carro de origem abriga um sub chassis que é ponto de fixação do coxim do câmbio e das bandejas da suspensão, antes ligadas diretamente a longarina. Essa nova estrutura deu ao Ka rigidez 7% maior, isso significa que como a carroceria sofre menos deformação, interfere menos nos ângulos programados de trabalho da suspensão, o novo conjunto se tornou tão eficiente que possibilitou até a eliminação da barra estabilizadora sem aumentar a rolagem.

Apesar da maior rigidez, a suspensão está mais macia e a direção que tinha respostas bem ariscas se tornou mais progressiva, porém não significa que perdeu a agilidade e sim que transmite menos as irregularidades do solo tornando a condução mais suave. Os conselheiros informaram casos de folga nos batentes superiores e recomendaram não substituir apenas as buchas e sim as bandejas completas, para evitar problemas de rangido. Na suspensão traseira, o eixo traseiro, que é de torção, continua o mesmo, mas se tornou 11% mais rígido devido ao aumento de peso da carroceria.

Freios

O sistema de freios também foi redimensionado e agora utiliza cilindro mestre também derivado do Fiesta com duas tubulações para a traseira e o novo integrante do conselho editorial Fabio Cabral, da Box Mecauto, lembra que houve um recall referente à tubulação do fluído de freio que fica em atrito com a abraçadeira do radiador, correndo o risco de haver vazamento de fluido e perda do freio. Aleksandro recomenda não retificar os discos de freio desse carro para não ter problemas com vibração do pedal durante as frenagens, quando os mesmos estiverem danificados, substitua por novos.

Injeção eletrônica

Segundo André Bernardo da Mecânica Design, de Campinas, o sistema utilizado pode ser o 4CFR ou 4AFR, ambos Magneti Marelli e citou casos de queima de módulo devido a problemas com a bobina de ignição, nesses casos o módulo tem concerto, mas recomenda a troca da bobina por uma original. Sérgio Torigoe informou que certa vez precisou socorrer um Ka que não pegava e a luz do imobilizador permanecia acesa.

O defeito foi solucionado substituindo o fusível 15. Sérgio também recomendou atenção nos casos de falha e alto consumo onde o problema pode ser contaminação do sensor de fluxo de ar por óleo lubrificante oriundo do respiro do motor. A tubulação do sistema de partida a frio pode se soltar na retirada e instalação da caixa de ar, o conselheiro Júlio Cesar disse já ter atendido um caso desses na oficina. Herança dos modelos Ford, os cabos de alimentação da bateria costumam descascar com a temperatura do cofre, por isso Danilo Tinelli recomenda atenção ao efetuar reparos próximo a eles.

Ignição

Um dos pontos críticos do carro. Os problemas de queima da bobina de ignição são constantes e a causa chegou a ser discutida no tópico Paredão do fórum OB entre os membros GNOATO e Mateus01, chegando a um acordo de que o problema poderia estar relacionado ao desgaste das velas de ignição que trabalham com um ‘gap’(folga), grande em condições normais, que aumenta com o desgaste provocando o aumento de tensão dentro da bobina, quando passa a existir uma fuga de corrente interna.

Isto serve para qualquer veículo, mas no caso do Ka o problema é frequente e também pode ser causado por cabos de vela com resistência acima do normal ou testes impróprios de falha de cilindro sem o centelhador. Em qualquer caso, a recomendação do conselheiro Amauri Gimenes é de efetuar sempre a troca dos três itens por componentes originais, e Carlos Bernardo, da Design Mecânica lembra que deve ser tomado cuidado ao remover os cabos quando for analisar as velas, pois podem se quebrar facilmente.

Arrefecimento

Outro ponto fraco do Ford Ka está no sistema de arrefecimento que está sujeito a desgaste prematuro dos componentes por onde circula o líquido de arrefecimento formando uma ‘lama’ que causa diversos problemas ao sistema. O primeiro é o travamento da válvula termostática eletrônica que provoca superaquecimento do motor, caso em que devem ser substituídos a válvula termostática, que é uma peça cara, tampa do reservatório, aditivo, de preferência original, e o reservatório, se já estiver com a aparência muito ruim.

A carcaça da válvula termostática também pode apresentar vazamento em sua carcaça e até a quebra do bocal de saída para o ar quente. Fique atento, pois veículos que trabalham por algum tempo com a temperatura acima do normal costumam apresentar trincas no reservatório de expansão. Uma falha grave neste veículo, que chegou a causar a indignação de Fabio Cabral foi a falta do ponteiro indicador da temperatura do liquido de arrefecimento, “onde já se viu, em pleno século 21, um veículo sair de fábrica sem indicador de temperatura, quando aquela lâmpada acende significa que o motor já ferveu e foi danificado”, explica Cabral.

Ainda no sistema de arrefecimento, Paulo Aguiar, da Engin, diz já ter tido problemas com a queima do maxi fusível da ventoinha, que segundo André Bernardo também pode parar de funcionar por falha do módulo, que pode ser reparado, e Francisco Carlos, da Stilo Motores, informou que teve alguns casos de entupimento da mangueira de retorno para o reservatório que possui um limitador de fluxo.

Motor e câmbio

O conjunto de motor e câmbio, assim como a maioria dos itens já citados derivam do Fiesta, com a diferença do acionamento das marchas que no Ka é feita por cabos, que permitem engates mais precisos e suaves além de possuir regulagem para quando for necessário. Os atuadores hidráulicos do Ford Ka de primeira geração têm fixação igual a do moderno, porém o encaixe da tubulação hidráulica é diferente e pode haver confusão na hora da venda, por isso Danilo Tinelli recomenda que seja confirmado e se for o caso contatar o fabricante para confirmar a aplicação, pois se for feita a aplicação incorreta pode haver necessidade de nova remoção do câmbio.

Os problemas causados pelo sistema de arrefecimento se refletem no motor, o membro do fórum OB, Marcos disse já ter feito dois motores devido a quebra da base da válvula termostática na saída para o ar quente. Como a luz de alerta sobre a temperatura não acendeu, o cliente só parou quando o motor começou a fazer barulho, ai já não havia mais o que fazer. Segundo Eduardo Topedo, devido aos cames do comando de válvula serem prensados, quando ocorre um superaquecimento, eles podem patinar sobre eixo e sair da posição correta devendo ser substituído.

Danilo Tinelli dá uma dica: caso haja vazamento de óleo pela junta do cabeçote após um superaquecimento, significa que o mesmo foi comprometido e deve ser substituído. Paulo Aguiar diz ter resolvido um problema de barulho no motor ao acionar o pedal de embreagem substituindo as arruelas de encosto do virabrequim que sofreram desgaste.

Nenhum comentário: