1 de nov. de 2010

Latin NCAP: Questão de sobrevivência.

Resultados do Latin NCAP podem despertar interesse do consumidor e servir como estímulo para a melhoria da segurança nos veículos nacionais.
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Os primeiros testes de colisão feitos com modelos fabricados no Brasil confirmaram o que todo mundo já sabia: há uma enorme defasagem na segurança dos veículos construídos por aqui se comparado aos fabricados na Europa e nos Estados Unidos. Isso ficou evidente na bateria inicial de "crash tests" realizada pela Latin NCAP. O programa de avaliação de carros vendidos na América Latina e Caribe segue os mesmos moldes da Euro NCAP. Só que Volkswagen Gol, Fiat Palio, Chevrolet Meriva e Peugeot 207 tiveram ressalvas graves em relação a riscos de lesões em motoristas e passageiros, com pontuações de uma a três estrelas, enquanto a grande maioria dos modelos vendidos na Europa recebem de quatro a cinco estrelas – a pontuação máxima.

O objetivo da Latin NCAP é colocar à disposição dos consumidores informações sobre a segurança de um carro. Ou seja, por aqui funciona basicamente como um alerta ao consumidor, ao contrário do Velho Continente, onde os testes servem até como veto de homologação ou como restrição à venda de veículos que se saiam mal nos exames. "Queremos ver uma melhoria significativa na segurança dos veículos nessa região. O maior objetivo é salvar a vida das pessoas", reforça Nani Rodrigues, secretária-executiva do Latin NCAP.

Até porque, mesmo com classificações ruins nos testes, os carros brasileiros estão dentro dos padrões que a lei brasileira determina. É do que se vale a Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores –, representante das fabricantes no Brasil. A entidade defende que segue as normas exigidas pela Contran, o Conselho Nacional de Trânsito. Mesmo esta sendo atrasada em relação às normas europeias. "Com relação a testes comparativos de produtos comercializados em diferentes mercados, com exigências legais diversas, deve-se ponderar as avaliações, sob pena de realizar-se uma análise equivocada com relação ao desempenho e cada produto", tergiversa a associação, em comunicado oficial.

De qualquer forma, as avaliações podem refletir na melhoria da segurança dos carros das montadoras. E forçar, quem sabe, o aperfeiçoamento da legislação atual. Na Europa, por exemplo, as cinco estrelas do Euro NCAP são usadas até como marketing pelas fabricantes. "Nos deparamos com um problema forte, que é a falta de interesse do brasileiro em segurança. Se o consumidor deixar de comprar carros com a pontuação baixa no Latin NCAP, pode ser que as montadoras mudem o comportamento e invistam", acredita Lambors Katsonis, médico do departamento de tráfego rodoviário da Abramet, a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego.

O Latin NCAP encaminhou os resultados para os fabricantes, que comentaram sobre os péssimos resultados dos testes. E o discurso foi o mesmo. A Peugeot, que conseguiu apenas uma estrela com o 207 – com motor 1,4 litro e quatro portas – afirma que todos os veículos da marca comercializados no país são submetidos a rigorosos testes de segurança ativa e passiva durante as diferentes etapas do desenvolvimento. Já a Fiat, que repetiu a pontuação com o Palio no "crash test" – com motor 1,4 litro e quatro portas – diz, através de comunicado, que a marca investe continuamente em segurança veicular e seus veículos comercializados no país atendem às normas nacionais.

O Toyota Corolla XEI equipado com airbag duplo foi o que se saiu melhor no Latin NCAP, ao obter quatro das cinco estrelas no teste. Ainda assim, representantes da montadora acreditam que não é hora de comemoração. "Nosso veículo se saiu melhor entre a comparação, mas não dá para anunciar vitória de nada. Esse tipo de teste beneficia o mercado como um todo, mas, antes disso, asseguramos construir carros seguros", ressalta Luiz Carlos Andrade Junior, vice-presidente sênior da Toyota Mercosul.

Na Europa, a "confiabilidade" dos consumidores em relação aos automóveis é assegurada pelo Euro NCAP, órgão independente que testa os veículos a partir de métodos desenvolvidos pelo Comitê Europeu de Veículos Experimentais – EEVC – para a legislação daquele continente. No Brasil, até então, só quem realizava testes de colisões nos modelos era o Cesvi – Centro de Experimentação de Segurança Viária. Só que o intuito era apenas verificar o índice de reparabilidade por encomenda das seguradoras – com batidas frontais em uma velocidade 15 km/h. Mas foi em 2007, aliás, que foi comprovado a partir de um "crash test" que o Volkswagen Fox produzido aqui e exportado para a Europa seria mais seguro que o fabricado para o mercado nacional.

Com a nova entidade, pela primeira vez na região as montadoras foram postas à prova. Para Michel van Ratingen, secretário-geral da Euro NCAP, o Latin NCAP contribuirá para elevar os padrões de segurança do carro e aumentar os níveis de proteção dada aos passageiros. "Esperamos ajudar a aumentar a tão necessária consciência pública sobre a importância dos transportes rodoviários mais seguros", completa o executivo. "A tendência é um retorno positivo do consumidor, que começa a questionar a segurança na busca de informações sobre um determinado veículo. Muitos já se mostram sensibilizados e acham importante ter esse tipo de conhecimento na hora da compra", completa Sérgio Mardirossian, coordenador técnico de produtos e serviços da Proteste Associação de Consumidores.

Instantâneas
# De acordo com o NHTSA, órgão federal responsável por normas de segurança dos veículos nos Estados Unidos, o airbag pode reduzir o risco de fatalidade em acidentes em até 12%. A combinação do item com o cinto de segurança pode diminuir em até 51% a possibilidade de morte em uma colisão.
# Além de evitar o travamento das rodas e permitir que o motorista manobre durante a freada, o ABS pode reduzir em mais de 25% a distância para um carro a 80 km/h parar totalmente em piso seco.
# A Latin NCAP foi criada pela Fundação FIA, a Federação Internacional do Automóvel, pela International Consumers Research and Testing – ICRT – e pela Fundação Gonzalo Rodriguez – do Uruguai.
# A primeira bateria de testes do Latin NCAP submeteu os veículos a uma colisão frontal a 64 km/h contra um obstáculo deformável, que simulava outro automóvel. A segunda etapa de testes deve ocorrer em breve e incluir colisões laterais.
# A mais recente leva de testes do Euro NCAP garantiu a avaliação máxima de cinco estrelas aos modelos Citroën C4, Honda CR-Z, Hyundai ix35 e Suzuki Swift.

Para doer no bolso
A Latin NCAP quer dar continuidade aos testes dos modelos produzidos e vendidos na América Latina e Caribe. E pretende chamar a atenção do governo para que a avaliação passe a ser oficial, como acontece na Europa. Um forte argumento utilizado pela organização é a grande economia que pode ser gerada pela diminuição de acidentes. Para se ter uma ideia, o custo com acidentes de trânsito no Brasil, de acordo com o Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada –, é de R$ 25 bilhões por ano.

Enquanto isso não acontece, o Contran, o Conselho Nacional de Trânsito, aprova as normas para a realização de teste de impacto de veículos com o objetivo de aperfeiçoar as normas já existentes, além de tornar os testes mais rigorosos e garantir mais segurança aos passageiros. Desde 2007, o órgão prevê que os modelos devem atender aos requisitos estabelecidos nas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas, a ABNT, através da realização de testes de impacto.

Em relação aos dispositivos de segurança, a resolução diz que a obrigatoriedade do airbag hoje é de apenas 8% da produção de veículos de cada montadora. O percentual vai subir para 15% em 2011, para 30%, em 2012, e para 60%, em 2013. Em 2014, todos os modelos saídos das plantas nacionais deverão ter bolsas frontais. "No mercado brasileiro, airbags são itens opcionais de compra, vistos até como equipamento de luxo. O que temos de destacar é que segurança não pode ser opcional", defende Sérgio Mardirossian, coordenador técnico de produtos e serviços da Proteste Associação de Consumidores.

Os resultados da Latin NCAP
Pontuação: de zero estrelas (menos seguro) até cinco estrelas (mais seguro).

Fiat Palio ELX 1.4 (sem airbags)
Classificação de estrelas para adultos: uma estrela.
Classificação de estrelas para crianças: duas estrelas.
Resumo: Alto risco de vida para o motorista, devido ao dano causado pelo volante à cabeça do condutor.

Fiat Palio ELX 1.4 (com airbags)
Classificação de estrelas para adultos: três estrelas.
Classificação de estrelas para crianças: duas estrelas.
Resumo: Proteção para o peito do motorista é apenas tolerável. Cadeirinha recomendada é incompatível com o sistema de cintos.

Volkswagen Gol Trend 1.6 (sem airbags)
Classificação de estrelas para adultos: uma estrela.
Classificação de estrelas para crianças: duas estrelas.
Resumo: Alto risco de morte para o motorista, devido ao dano causado pelo volante à cabeça do condutor.

Volkswagen Gol Trend 1.6 (com airbags)
Classificação de estrelas para adultos: três estrelas.
Classificação de estrelas para crianças: duas estrelas.
Resumo: Airbags oferecem boa proteção para a cabeça, porém, o joelho do motorista pode sofrer com impacto das estruturas do veículo.

Peugeot 207 Compact 1.4 (sem airbag)
Classificação de estrelas para adultos: uma estrela.
Classificação de estrelas para crianças: duas estrelas.
Resumo: Alto risco de morte para o motorista, devido ao dano causado pelo volante à cabeça do condutor.

Peugeot 207 Compact 1.4 (com airbags)
Classificação de estrelas para adultos: duas estrelas.
Classificação de estrelas para crianças: duas estrelas.
Resumo: Airbag foi incapaz de prevenir que o peito do motorista se chocasse com o volante do veículo.

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