14 de mai. de 2010

Avaliação: Picape 207, a Peugeot Hoggar

Com o lançamento da Hoggar, francesa entra no disputado mercado brasileiro de pick-ups compactas

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A Peugeot quer se firmar como um dos grandes fabricantes generalistas de automóveis. Para tal, é preciso atuar em todos os segmentos. E como o Brasil é o grande mercado mundial das pick-ups compactas, foi escolhido para o lançamento mundial da Hoggar, que chega às concessionárias no dia 15 de maio. Embora não seja a primeira pick-up da marca a ser vendida no país – nos anos 90, a média 504 foi importada da Argentina –, a Hoggar marca a entrada da Peugeot no segmento mais dinâmico dos utilitários e que representa as maiores vendas. A liderança das pick-ups compactas está há mais de uma década com a Fiat Strada, seguida por Volkswagen Saveiro, Chevrolet Montana e a veteraníssima Ford Courier.
Ou seja, a marca francesa – uma das pioneiras entre os “newcommers” a desembarcar no Brasil, há quase 20 anos – vai “comprar briga” exatamente contra as chamadas “quatro grandes”, as marcas estabelecidas há mais tempo no mercado nacional.

E a briga promete ser boa. A Peugeot não esconde o otimismo e fala em arrebatar 10% do segmento de pick-ups compactas brasileiras até o final de 2011. Para isso, conta com argumentos interessantes. Entre eles, o que é – ou deveria ser – a “razão de ser” de qualquer pick-up: a caçamba. A opção da Peugeot foi investir apenas em uma única versão de cabine simples, exatamente para poder oferecer o maior espaço possível na caçamba. A da Hoggar é a maior do segmento de compactos, tanto em capacidade de carga útil – 742 kg na versão básica X-Line – quanto em volume – 1.151 litros. Porta removível, caixas de rodas pouco salientes e vidro traseiro com janela corrediça colaboram com a otimização do aproveitamento da caçamba.

A ideia – que não chega a ser tão original, em se tratando de uma pick-up – é que a Hoggar conciliasse a dirigibilidade de um carro de passeio com a robustez de um utilitário.

E a solução adotada foi a utilização de uma plataforma híbrida. A parte dianteira do Peugeot 207 nacional – produzido sobre a mesma plataforma do 206 – foi unida à parte traseira da plataforma do utilitário Partner – que terá sua nova geração importada da Argentina e vendida por aqui ainda esse ano, nas versões passageiros e carga. A presença do conjunto suspensivo traseiro herdado da Partner ajuda a explicar a ótima capacidade de carga da Hoggar. Como resultado da “fusão”, a pick-up recebeu a maior plataforma da linha 207, com 4,53 m. Ou seja, 65,3 cm a mais que o hatch, 45,3 cm mais que o SW e 29 cm mais que o sedã Passion.

Mas como boa parte dos consumidores de pick-ups compactas praticamente nunca usa a caçamba e apenas aprecia o “sabor de aventura” ostentado pelas pick-ups, a Hoggar também precisava se esforçar para ser “fashion”.

A frente do 207, com a grande tomada de ar e o conjunto ótico felino que se estende às laterais, precisou ser devidamente harmonizada ao estilo robusto da lateral. A traseira ostenta grandes lanternas trapezoidais que incluem três elipses com as diferentes funções – freio, pisca alerta, luzes indicativas de direção e de ré. Toda a extensão da caçamba é delineada por uma moldura.

No para-choque traseiro, dois ressaltos para que quem quiser arrumar a carga na caçamba possa pisar. A versão mais vistosa – e que vai estrelar os comerciais da marca – é a “aventureira” Escapade, com rodas aro 15. A “top” de linha da Hoggar herda a estética apresentada na versão homônima do 207 SW.

Sob o capô da Hoggar, dois velhos conhecidos. Na versão “top” Escapade está o 1.6 Flex, que fornece 113 cv com etanol e 110 cv com gasolina, com torque máximo de 15,5 kgfm aos 4 mil giros com etanol. Nas versões básica X-Line e intermediária XR está o motor 1.4 Flex, com 82 cv com etanol e 80 cv com gasolina e torque máximo de 12,85 kgfm a 3.250 giros, com etanol. As três versões trabalham em conjunto com o mesmo câmbio manual de cinco marchas à frente e uma à ré. A Peugeot afirma que reduziu as relações de marcha da primeira e da segunda, em virtude de se tratar de um veículo que eventualmente vai trabalhar com plena carga.

Mas tanta estratégia só teria chance de dar certo se viesse acompanhada de preços competitivos. A básica X-Line começa em R$ 31.400, a intemediária XR inicia em R$ 35.500 e a “top” Escapade parte dos R$ 43.500.

A Peugeot está estrategicamente entre os R$ 28.900 da “pé de boi” da Strada Fire 1.4 e os R$ 47.947 da Montana Sport 1.8, a mais cara pick-up compacta do mercado. E a Peugeot avisa: quer vender 1.500 unidades mensais da Hoggar – cerca de 10% do segmento.

Primeiras impressões - Mistura fina

(Florianópolis/SC) - O teste de apresentação da Hoggar, realizado no litoral catarinense, começou cercado de expectativa. A decisão de mesclar elementos da dianteira da plataforma do 207 nacional – derivada do 206 – com partes da traseira da plataforma da van Partner poderia gerar um produto “esquisofrênico”, onde o desentendimento de partes oriundas de modelos tão distintos originasse algo indócil e desequilibrado. Mas a pick-up da Peugeot teve a chance de mostrar que uma plataforma híbrida pode dar perfeitamente conta do recado.

A primeira versão testada foi a Escapade, a que vem com aquele “quebra-mato” dianteiro em tom cinza claro que – embora remeta vagamente a uma dentadura de vampiro – dá um ar simpático ao carrinho, em conjunto com a nova marca do leão, agora com aspecto tridimensional.

Para quem ainda não souber de que versão se trata, a espalhafatosa inscrição “Escapade” grafitada na elegante tampa do porta-malas elimina quaisquer dúvidas. Em termos de habitabilidade, dá algum trabalho achar uma boa posição para os bancos e o fato dos controles de vidros e espelhos estarem no console central – e não na porta, como é mais usual – causa alguma confusão inicial. Por se tratar de um utilitário, a Peugeot bem que poderia ter pensado em equipar a Hoggar com retrovisores externos um pouco maiores. No geral, essa versão da pick-up é bem equipada e conta com padrões de acabamento bonitos e agradáveis.

A topo de linha da Hoggar é movida pelo motor 1.6 Flex de 113 cv com etanol, com torque máximo presente aos quatro mil giros.
Embora demore um pouco a reagir em baixas rotações, a motorização esbanja vigor e o carro acelera de forma consistente e um tanto ruidosa – fato agravado pelos pneus de uso misto. Na estrada, o mais novo Peugeot mostrou boa disposição para ultrapassagens e um conjunto bastante equilibrado, com destaque para a susspensão bem calibrada. Foi possível atingir a máxima de 155 km/h com duas pessoas a bordo. Depois disso, a Hoggar não pareceu disposta a acelerar mais.
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Avaliada já ao cair da noite, a versão XR 1.4, embora mais despojada, também mostrou seu valor. O torque em baixos giros surge mais cedo que o da versão 1.6 , o que permite uma utilização mais amistosa no trânsito urbano. Mas a menor potência se traduz num desempenho menos convincente em velocidades mais elevadas nas estradas. A opção por um modelo ou por outro vai depender do tipo preferencial de utilização, além do fator financeiro e da questão estética. Já a versão básica X-Line, que não foi disponibilizada para o teste de apresentação, é tão “pelada” que certamente terá a preferência dos frotistas, mais focados no preço competitivo e insensíveis a fatores como conforto ou requinte de acabamento.

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