Dono de importado tenta usar carro para se vingar de feirante
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O feirante da barraca de panelas tinha uma Kombi, óbvio. O dono do supermercado localizado na rua da feira tinha um importado, quase óbvio. Depois que o dono do supermercado teve a panela favorita de sua mulher desamassada com perfeição pelo feirante, os dois ficaram amigos de terças-feiras. Falavam de futebol, de mulher e de carro. Foi assim por dois anos, até que, um dia, o dono do importado pediu: “me empresta a Kombi?”; e o feirante disse: “não”.
Os motivos eram óbvios, tanto que o feirante nem se incomodou em explicar. Ficava ali às terças-feiras, mas a Kombi era sua ferramenta de trabalho no resto da semana em outros bairros. O dono do supermercado, por sua vez, foi tomado de um ódio tão cego que só lhe deixou ver entre as frestas dos olhos cerrados as próprias razões. “Isso não fica assim”, pensou.
No livro “Ética dos Ancestrais”, os rabinos esclarecem que há uma gradação na natureza do ódio. O sujeito que é fácil de provocar e também fácil de apaziguar; o sujeito que é difícil de provocar e também difícil de apaziguar. Esses são tolos. O sábio: o sujeito que é difícil de provocar e fácil de apaziguar. E o perverso: sujeito que é facil de provocar e difícil de apaziguar. (Será que há algum sábio dirigindo?)
Infelizmente, o dono do supermercado enquadrava-se na última categoria, o sujeito que faz a manutenção do ódio, conservando-o por dias, meses, anos, por toda a vida, se necessário, até que possa revidar.
No caso do proprietário do importado, a espera levou três meses. O feirante tinha conhecido uma mina da hora e queria impressioná-la. Pediu: “Me impresta o importado?”. Ao que o dono do importado respondeu: “Sim, empresto. Empresto porque eu não sou como você!” Ele quis dizer: sou melhor, não só porque empresto, mas porque empresto algo muito melhor do que sua Kombi.
O feirante, claro, sentiu-se ofendido em sua humanidade. Recusou o importado para impressionar a mina e foi de Kombi mesmo (que, no fim das contas, gerou divertimento garantido no banco de molas). Os dois nunca mais se falaram às terças-feiras, justo agora que o campeonato brasileiro está pegando fogo, a indústria automobilística tem um lançamento atrás do outro e a mulher Melancia posou para Playboy.
A compreensão é uma das virtudes que separam o tolo do sábio. A distância pode ser equivalente a dar duas voltas ao redor do mundo em um Lada. Ainda assim, é preciso colocar um mecânico no banco do passageiro e percorrê-la. Quanto mais nos sentimos diferentes dos outros, quanto menos formos capaz de compreender suas razões, mais estamos propenso ao ódio, ao rancor e à inveja. O resultado disso tudo no trânsito a gente já sabe o samba que dá. O que a gente ainda não sabe – e nem se dá o direito de – é saber como seria se fosse de outro jeito.
Os motivos eram óbvios, tanto que o feirante nem se incomodou em explicar. Ficava ali às terças-feiras, mas a Kombi era sua ferramenta de trabalho no resto da semana em outros bairros. O dono do supermercado, por sua vez, foi tomado de um ódio tão cego que só lhe deixou ver entre as frestas dos olhos cerrados as próprias razões. “Isso não fica assim”, pensou.
No livro “Ética dos Ancestrais”, os rabinos esclarecem que há uma gradação na natureza do ódio. O sujeito que é fácil de provocar e também fácil de apaziguar; o sujeito que é difícil de provocar e também difícil de apaziguar. Esses são tolos. O sábio: o sujeito que é difícil de provocar e fácil de apaziguar. E o perverso: sujeito que é facil de provocar e difícil de apaziguar. (Será que há algum sábio dirigindo?)
Infelizmente, o dono do supermercado enquadrava-se na última categoria, o sujeito que faz a manutenção do ódio, conservando-o por dias, meses, anos, por toda a vida, se necessário, até que possa revidar.
No caso do proprietário do importado, a espera levou três meses. O feirante tinha conhecido uma mina da hora e queria impressioná-la. Pediu: “Me impresta o importado?”. Ao que o dono do importado respondeu: “Sim, empresto. Empresto porque eu não sou como você!” Ele quis dizer: sou melhor, não só porque empresto, mas porque empresto algo muito melhor do que sua Kombi.
O feirante, claro, sentiu-se ofendido em sua humanidade. Recusou o importado para impressionar a mina e foi de Kombi mesmo (que, no fim das contas, gerou divertimento garantido no banco de molas). Os dois nunca mais se falaram às terças-feiras, justo agora que o campeonato brasileiro está pegando fogo, a indústria automobilística tem um lançamento atrás do outro e a mulher Melancia posou para Playboy.
A compreensão é uma das virtudes que separam o tolo do sábio. A distância pode ser equivalente a dar duas voltas ao redor do mundo em um Lada. Ainda assim, é preciso colocar um mecânico no banco do passageiro e percorrê-la. Quanto mais nos sentimos diferentes dos outros, quanto menos formos capaz de compreender suas razões, mais estamos propenso ao ódio, ao rancor e à inveja. O resultado disso tudo no trânsito a gente já sabe o samba que dá. O que a gente ainda não sabe – e nem se dá o direito de – é saber como seria se fosse de outro jeito.
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