FABIANO SEVERO
editor-assistente de Veículos da Folha de S.Paulo
No lançamento do primeiro Fusion, em julho de 2006, um executivo da Ford afirmou que aquele modelo era "um desses raros automóveis que dão muito prazer ao dirigir".
Era mais partidarismo do que verdade. O Fusion antigo podia ser qualquer coisa, menos agradável de dirigir.
A posição era desajeitada, o volante, muito grande, e a direção, pesada e lenta. Sem falar na dificuldade que o motor 2.3 (162 cv) tinha para carregar um sedã de quase 5 metros.
Agora, a história é outra. Tecnicamente, o Fusion está mais europeu do que americano, fruto de algumas mudanças sobre a mesma plataforma mexicana.
A primeira medida foi dotá-lo de um motor 3.0 V6 (seis cilindros em "V") capaz de carregar 1.650 kg sem pestanejar.
Segunda: melhorar o acabamento interno. No anterior, os plásticos duros rangiam antes da segunda revisão. No novo, são maleáveis e com certo cuidado nos encaixes do console.
A terceira --e não menos importante-- medida foi a tração integral. Exceto pelos Subaru, é algo inédito e louvável para um carro de R$ 100 mil.
Aquele comportamento insosso é coisa do passado, assim como a insistência em passar reto nas curvas rápidas -compreensível para o antigo sedã de tração e motor dianteiros.
Essa melhora fez até a Ford acreditar que criara um "supercorisco". Não pensaram duas vezes: lascaram um par de bancos esportivos de primeira linha, com apoios laterais dignos da família S-Line, da Audi. O Fusion nem merecia tanto.
Dá vontade de ir à uma revenda Ford, encomendar só o banco e colocá-lo na sala de casa. Não ligue para os comentários dos parentes. É crítica da oposição acostumada a pouco.
Clodovil
O motor V6 (243 cv), porém, não faz milagre. Apesar de acumular prêmios, perde feio para os V6 do Honda Accord (278 cv) e do Toyota Camry (284 cv), mesmo sendo um primor em silêncio e vibração.
O câmbio automático de seis marchas também trabalha na dele. Ideal para quem põe no "drive" e esquece do mundo. Mas, se a intenção é enveredar pelas trocas sequenciais, vá com calma. Não são das mais rápidas e empolgantes.
O painel indica as mudanças de marcha. E indica também que a Honda fez escola. Os tracinhos brancos e circulares são idênticos aos do Accord, e o dégradé azul, uma cópia deslavada do painel do Civic. Impressiona, mas cansa a vista à noite.
Para piorar, há luzes de bordel iluminando a cabine. São sete opções de cor à disposição dos porta-copos e do assoalho, numa fronteira tênue entre a sofisticação e o ridículo, tipo o terno violeta do Clodovil.
Fora isso, o Fusion mantém as qualidades que o consagraram. Tem porte intimidador e ótimo espaço no banco traseiro e no porta-malas (530 litros).
Com o acabamento melhorado, a direção elétrica, o motor V6 e a tração integral, agora, sim, o executivo da Ford pode dizer que o Fusion está prazeroso de dirigir. De dia.
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