15 de jun. de 2009

Lá fora - Veja quanto custam carros brasileiros na Argentina

Além do preço mais baixo, modelos também trazem opções que não são oferecidas aos brasileiros


Dando sequência à série de reportagens “Lá fora”, que começou na semana passada, com o México, o WebMotors visitou a Argentina (por meios virtuais) e trouxe de lá os preços e opções de modelos brasileiros vendidos naquele país. Como na primeira reportagem, a intenção é mostrar uma situação aparente paradoxal: como pode um carro fabricado no Brasil custar mais barato fora do país do que aqui? Talvez não pudesse, mas que custa, custa. Quer exemplos? Temos diversos.

Veja o sedã mais barato do Brasil, o Chevrolet Classic. Por aqui, o modelo 2010 VHCE sai a partir de R$ 25.379. Na Argentina, ele custa 35,71 mil pesos, ou R$ 18.537. A diferença é menos gritante que no México, mas, na Argentina o motor é um 1,4-litro. Mais equipado, com ar-condicionado, direção, vidros e travas elétricos e toca-CD com MP3, o sedãzinho custa 41,62 mil pesos. Ou, em reais, R$ 21.604.

O leitor mais atento e informado dirá que isso se deve ao fato de o Classic ser feito na Argentina (aliás, lá também é vendido o hatch e a perua), mas não é, não. O Chevrolet Astra é feito no Brasil. Na Argentina, o modelo GL, equipado com motor 2-litros, ele custa 58,19 mil pesos. Em reais, isso dá R$ 30.206. O leitor imaginará que o carro não tem nada, mas ele vem com dois airbags dianteiros, ar-condicionado, direção hidráulica, toca-CD, vidros, travas e retrovisores elétricos. Pouco menos do que custa um Corsa Maxx 1.4 hatch.

Na Argentina também há uma versão do Astra que nunca tivemos por aqui, a GSi. De novo o leitor pode achar que estamos mal informados. Afinal, já tivemos, sim, um Astra GSi, modelo que, aliás, foi bastante criticado por não ter muita coisa de esportivo a não ser o nome e um acerto de suspensão mais espertinho.

Pois o modelo argentino é equipado com o mesmo motor 2,4-litro que era usado no Vectra, com 150 cv. Completo, com dois airbags dianteiros, ar-condicionado digital, vidros, travas e retrovisores elétricos, toca CD, bancos de couro, controle do rádio no volante, retrovisor eletrocrômico, computador de bordo e teto solar elétrico, o carro custa 74,72 mil pesos. Isso dá R$ 38.786... Diante do GSi argentino, não dá para dizer que o nosso era GSi, também.

Para ficarmos um pouco mais concentrados na GM, que pediu concordata nos EUA na última segunda-feira, vale dizer que o Corsa, por lá, não tem motores menores do que o 1,8-litro. Por aqui, o Corsa já não usa mais este motor, preparando terreno para o Viva. Seja como for, a versão básica custa 44,31 mil pesos na Argentina, o que dá R$ 23 mil.

Por esse valor, muita gente aqui no país adoraria comprar um Corsa com motor 1,8-litro, mesmo que fosse peladinho. A questão é que o Corsa argentino já vem com ar-condicionado e direção hidráulica. Por R$ 23 mil. A GM não tem, no Brasil, nenhum veículo tão barato. O mais em conta da marca é o Celta de três portas na versão Life, que sai por R$ 24.963. Como se sabe, o hatch de entrada da GM não usa nenhum outro motor que não o 1-litro.

Aliás, quanto será que custa o Celta na Argentina? Vamos devagar... Para começar, o Celta não existe na Argentina. Pelo menos não como o conhecemos por aqui. Lá, ele é um veículo Suzuki. Mais especificamente, o Suzuki Fun. E não tem motor 1-litro, só 1,4-litro de 85 cv. Também não vem sem nada. De série, o carrinho traz ar-condicionado, direção hidráulica e toca-CD. Tudo por 37,5 mil pesos, ou R$ 19.466, na versão de três portas, e 39,8 mil na versão de cinco portas. Isso dá R$ 20,66 mil. Dá para entender porque os argentinos chamam o carro de Fun (divertido, em inglês). Podiam chamá-lo também de Cheap (barato, em inglês).

Os argentinos têm mais um veículo que não nos permite nenhuma referência, uma vez que ele não é vendido por aqui. Trata-se do Corsa Easytronic, equipado com o câmbio manual automatizado que, aqui no Brasil, equipa apenas a Meriva. Versão mais completa do carro na Argentina, ela custa 51,54 mil pesos. Em miúdos, ou melhor, em reais, isso equivale a R$ 26.754.

Luxuosos

Na Argentina também está à venda o Vectra, ainda com a frente antiga (pelo menos no site) e motor 2,4-litros. Com câmbio automático e tudo a que o carro tem direito, ele custa 86,67 mil pesos. Em reais, pelo câmbio atual, isso daria R$ 44.989. É menos do que custa aqui uma Meriva 1.8 Expression.

O maior concorrente do Vectra no Brasil, o Honda Civic, também é vendido na Argentina. Fabricado por aqui, o modelo é vendido no país vizinho com preço fixo em pesos, uma vantagem grande naquele país, que tem enfrentado oscilações de valor. Lá, o Civic LX S sai mais barato do que o Vectra: 86.279 pesos, ou R$ 44.786. O Fit 1.4, por aqui, começa nos R$ 51.845.

Voltando aos modelos mais baratinhos, o VW Gol G4 se tornou o modelo de entrada da marca alemã no Brasil. Custa, por aqui, R$ 25,3 mil. Com motor 1-litro, é lógico. Na Argentina, o mesmo Gol é vendido como Gol Power. O motor dele é 1,6-litro e a lista de equipamentos é longa: ar, direção, vidros, retrovisores e travas elétricos, toca-CD com MP3 e entrada USB, rodas de liga-leve de aro 15", dois airbags, faróis de neblina e alarme. Com esse pacote, o carro custa 40,92 mil pesos. Convertendo isso para reais, dá R$ 21.241...

Se a escolha recair sobre o Gol de terceira geração, chamado de G5, por aqui, teremos o que os argentinos conhecem como Gol Trend. Também com motor 1,6-litro, ele começa em 42,35 mil pesos, ou R$ 21.983.

Entre os veículos mais caros estão o Fox 1.6 Comfortline e o Voyage Conceptline, também com motor 1,6-litro, vendidos respectivamente por 51,22 mil pesos e 52,23 mil pesos. Em reais, eles custariam R$ 26.588 e R$ 27.112. Ambos têm pelo menos ar-condicionado e direção hidráulica, mas o toca-CD com MP3 e Bluetooth também vem de lambuja. Aqui no Brasil, as versões mais baratas destes carros, com motor 1-litro, não saem por menos de R$ 29 mil. Sem nenhum equipamento.

Francesas

As francesas Renault e Peugeot são bastante tradicionais no mercado argentino, com presença naqueles mercados muito anterior à que têm aqui. E também com preços muito mais baixos que os praticados no Brasil, mesmo considerando veículos fabricados aqui.

Da Renault, temos dois exemplos. O primeiro é o Sandero, que, na versão Pack, a mais baratinha (equipada com motor 1,6-litro de oito válvulas), custa 45,64 mil pesos, o que dá R$ 23.691. Inclua neste valor o ar-condicionado, a direção hidráulica e o toca-CD com MP3 e comando no volante. Por aqui, o Sandero basicão, com motor 1-litro e nada de equipamentos, sai por R$ 29,69 mil. E pensar que você achava o carro barato...

A versão mais equipada do Sandero, chamada Confort e equipada com o motor 1,6-litro de 16 válvulas, custa 45,64 mil pesos. Este valor equivale a R$ 23.691 e inclui ar-condicionado, direção hidráulica, toca-CD com MP3 e comando no volante, vidro elétrico dianteiro e airbags dianteiros.

Como há aqueles que preferem um veículo mais equipado, a Renault oferece o Renault Mégane Sedan na versão Privilège 2.0 com câmbio automático. Apesar do nome, o sedã é brasileirinho da gema, mais especificamente paranaense. E custa na Argentina 88,77 mil pesos, ou R$ 46.079. No Brasil, o mesmíssimo carro sai por R$ 73,65 mil. A diferença é de R$ 27.571. Daria para comprar um Sandero, pelo menos na Argentina. Aqui no Brasil, ainda faltariam pouco mais de R$ 2.000.

Da Peugeot, vale citar o exemplo do 206,5, ou 207, que lá na Argentina tem o nome mais simpático (e comprido) de 207 Compact. Na versão XR 1.4 de três portas, a mais baratinha, ele sai por 47,1 mil pesos, ou R$ 24.449. Traz, de série, ar-condicionado, direção hidráulica e toca-CD com MP3. No Brasil, o XR 1.4 custa R$ 35,99 mil.

A versão mais cara da linha, a XT Premium com motor 1,6-litro, vem equipada com ar, direção assistida, toca-CD com MP3, teto solar elétrico, ABS, quatro airbags, bancos de couro, sensor de chuva e de iluminação, câmbio automático e rodas de liga-leve de aro 15". Sai pela bagatela de 67,6 mil pesos, ou R$ 35,09 mil. Sai quase R$ 1.000 mais barato do que a versão XR vendida por aqui.

A lista de exemplos, como se vê, é extensa. A pergunta do início do texto continua no ar. Há quem culpe os impostos, contra os quais foi comemorado, em maio, o Dia da Liberdade de Impostos. Ainda que eles sejam realmente nocivos e atrapalhem os preços, eles não devem ser a única explicação para o problema. Segundo a coluna mais recente do jornalista Joel Leite, a margem de lucro das fábricas é três vezes maior no Brasil. Se os brasileiros conseguissem distinguir o que é preço e o que é imposto, como os norte-americanos, a resposta seria mais simples. Por sorte, não é impossível.

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