Há modelos feitos no Brasil vendidos na Europa, na África... Acredita que, mesmo com frete, eles são mais baratos por lá?
Chegamos à penúltima reportagem da série “Lá fora”, que mostra quanto carros fabricados no Brasil custam nos países para os quais são exportados. Dessa vez, decidimos dar um pulinho em países mais distantes do que os vizinhos da América do Sul, lugares nos quais os custos de transporte poderiam fazer os carros fabricados aqui custarem um pouco mais caro do que já vimos que eles custam em volta do Brasil (até 60% menos do que pagamos). Mas, mesmo assim, os preços continuam a ser absurdamente mais baixos do que os que somos obrigados a suportar.
Um exemplo de orgulho para a engenharia brasileira foi o anúncio das vendas do VW Fox na Alemanha, onde ele deve ser substituído apenas pelo novo Lupo, dentro de um ano ou dois. Por lá, o carro não tem versão com motor 1-litro, só a com motor 1,2-litro. Nessa opção, o carro custa 9.650 euros, ou pouco mais de R$ 27,1 mil, mas vem com direção hidráulica, airbags para motorista e passageiro e sistema ABS de série, além de um motor com mais torque. O modelo vendido no Brasil, com motor 1-litro e nível de acabamento semelhante, não sai por menos de R$ 34,79 mil.
Se o consumidor quiser um carro com potência semelhante, o que mais se aproxima do 1-litro brasileiro é a versão 1,4-litro, que tem 75 cv. Essa custa 11,2 mil euros, ou pouco menos de R$ 31,5 mil. Ainda sai mais barata, mas tem comportamento dinâmico bem mais interessante, uma vez que, na cidade, o que conta mesmo é torque.
A diferença de preço, neste caso, não é tão gritante, mas vale comparar a renda per capita no Brasil com a da Alemanha, além da estrutura viária que os alemães têm à disposição. Segundo dados de 2007 do FMI, esse índice, na Alemanha, era de US$ 34.181. No Brasil, segundo dados da mesma fonte, a renda era de US$ 10.326. Diante disso, a diferença, aparentemente pequena, se mostra um abismo.
Outro país onde encontramos produtos brasileiros foi a África do Sul. Por lá, a Fiat Strada Fire é chamada de Strada X-Space. Equipada como o modelo brasileiro, ou seja, sem ar-condicionado, direção hidráulica ou travas e vidros elétricos ela custa 115,9 mil randes, ou aproximadamente R$ 27,9 mil, ao câmbio de hoje. Aqui, a mesma picape custa R$ 34,68 mil.
Por lá também é vendido o VW Polo Sedan, chamado no gigante africano de Polo Classic. Na versão 1,6-litro Comfortline, a mais barata a trazer, como o modelo brasileiro, o ar-condicionado de série, ele custa 189,8 mil randes, ou cerca de R$ 45,7 mil. A diferença é que o Polo Classic sul-africano traz, de série, dois airbags dianteiros e ABS. A mesma configuração, no Brasil, custa exatos R$ 54 mil.
Um modelo que pode parecer exportado, mas não é, é a Ford Bantam, a Courier da África do Sul. O projeto da picape é brasileiro, mas ela tem fabricação local. Em todo caso, não custa conferir a diferença de preço. A Bantam, que tem um pouco a mais de espaço atrás do banco do motorista, sai por 111,21 mil randes, ou R$ 26,8 mil. A Courier, por R$ 30.295.
Fizemos uma pesquisa intensa para encontrar modelos de outras marcas vendidos em países mais distantes, mas só conseguimos preços e informações dos modelos da VW nos países em que pesquisamos, o que, para nosso propósito, dá e sobra, ainda que o fato de mostrarmos só modelos da VW daqui em diante possa tanto soar como proteção ou como ataque. Não se trata de nenhuma das duas coisas, é apenas circunstância. Feita a ressalva, sigamos.
Sabia, por exemplo, que o Golf brasileiro é vendido no Canadá? Por lá ele é chamado de Golf City. Seu preço, que não inclui ar-condicionado de série, como no modelo brasileiro, mas sim o motor 2-litros, toca-CD com MP3, airbags e ABS de série, é de 15,3 mil dólares canadenses. Isso dá mais ou menos R$ 26,4 mil. Se juntarmos a esse valor os 1.350 do ar-condicionado, chegaremos a 16,65 mil dólares canadenses. Dá, em reais, cerca de R$ 28,71 mil. O mesmo carro, no Brasil, custa R$ 56,39 mil. Quase o dobro.
Também há veículos brasileiros à venda no Marrocos, os brasileiríssimos Gol e Fox. O primeiro, também vendido por lá com motor 1-litro e apenas duas portas, mas com direção hidráulica, vidros e travas elétricas, toca-CD com MP3, aquecimento e limpador e desembaçador traseiro, sai por 119 mil durhans, ou cerca de R$ 29,4 mil. No Brasil, o mesmo carro custaria R$ 28,88 mil. Foi o primeiro caso de carro brasileiro vendido mais caro no exterior que encontramos. Ainda assim, por pouca diferença.
O mesmo poderia acontecer com o Fox, mas não foi assim. Também com motor 1-litro, mas bem mais completo, ou seja, com cinco portas, ar-condicionado, toca-CD, direção hidráulica, vidros, travas e retrovisores elétricos, o carro é vendido no Marrocos a 148,5 mil durhans, o que equivale a R$ 36,7 mil. No Brasil, o Fox com o mesmo nível de equipamentos custa, no mínimo, R$ 42,59 mil.
Como quem vem acompanhando essa série especial já deve estar exausto de ver como carros brasileiros custam menos em países como México, Argentina e Chile, na semana que vem tentaremos explicar por que os brasileiros gastam tanto dinheiro a mais pelo direito de se locomover. E, como adiantamos, não é só porque os impostos no Brasil são altos. Se o problema todo fosse só esse...
Chegamos à penúltima reportagem da série “Lá fora”, que mostra quanto carros fabricados no Brasil custam nos países para os quais são exportados. Dessa vez, decidimos dar um pulinho em países mais distantes do que os vizinhos da América do Sul, lugares nos quais os custos de transporte poderiam fazer os carros fabricados aqui custarem um pouco mais caro do que já vimos que eles custam em volta do Brasil (até 60% menos do que pagamos). Mas, mesmo assim, os preços continuam a ser absurdamente mais baixos do que os que somos obrigados a suportar.
Um exemplo de orgulho para a engenharia brasileira foi o anúncio das vendas do VW Fox na Alemanha, onde ele deve ser substituído apenas pelo novo Lupo, dentro de um ano ou dois. Por lá, o carro não tem versão com motor 1-litro, só a com motor 1,2-litro. Nessa opção, o carro custa 9.650 euros, ou pouco mais de R$ 27,1 mil, mas vem com direção hidráulica, airbags para motorista e passageiro e sistema ABS de série, além de um motor com mais torque. O modelo vendido no Brasil, com motor 1-litro e nível de acabamento semelhante, não sai por menos de R$ 34,79 mil.
Se o consumidor quiser um carro com potência semelhante, o que mais se aproxima do 1-litro brasileiro é a versão 1,4-litro, que tem 75 cv. Essa custa 11,2 mil euros, ou pouco menos de R$ 31,5 mil. Ainda sai mais barata, mas tem comportamento dinâmico bem mais interessante, uma vez que, na cidade, o que conta mesmo é torque.
A diferença de preço, neste caso, não é tão gritante, mas vale comparar a renda per capita no Brasil com a da Alemanha, além da estrutura viária que os alemães têm à disposição. Segundo dados de 2007 do FMI, esse índice, na Alemanha, era de US$ 34.181. No Brasil, segundo dados da mesma fonte, a renda era de US$ 10.326. Diante disso, a diferença, aparentemente pequena, se mostra um abismo.
Outro país onde encontramos produtos brasileiros foi a África do Sul. Por lá, a Fiat Strada Fire é chamada de Strada X-Space. Equipada como o modelo brasileiro, ou seja, sem ar-condicionado, direção hidráulica ou travas e vidros elétricos ela custa 115,9 mil randes, ou aproximadamente R$ 27,9 mil, ao câmbio de hoje. Aqui, a mesma picape custa R$ 34,68 mil.
Por lá também é vendido o VW Polo Sedan, chamado no gigante africano de Polo Classic. Na versão 1,6-litro Comfortline, a mais barata a trazer, como o modelo brasileiro, o ar-condicionado de série, ele custa 189,8 mil randes, ou cerca de R$ 45,7 mil. A diferença é que o Polo Classic sul-africano traz, de série, dois airbags dianteiros e ABS. A mesma configuração, no Brasil, custa exatos R$ 54 mil.
Um modelo que pode parecer exportado, mas não é, é a Ford Bantam, a Courier da África do Sul. O projeto da picape é brasileiro, mas ela tem fabricação local. Em todo caso, não custa conferir a diferença de preço. A Bantam, que tem um pouco a mais de espaço atrás do banco do motorista, sai por 111,21 mil randes, ou R$ 26,8 mil. A Courier, por R$ 30.295.
Fizemos uma pesquisa intensa para encontrar modelos de outras marcas vendidos em países mais distantes, mas só conseguimos preços e informações dos modelos da VW nos países em que pesquisamos, o que, para nosso propósito, dá e sobra, ainda que o fato de mostrarmos só modelos da VW daqui em diante possa tanto soar como proteção ou como ataque. Não se trata de nenhuma das duas coisas, é apenas circunstância. Feita a ressalva, sigamos.
Sabia, por exemplo, que o Golf brasileiro é vendido no Canadá? Por lá ele é chamado de Golf City. Seu preço, que não inclui ar-condicionado de série, como no modelo brasileiro, mas sim o motor 2-litros, toca-CD com MP3, airbags e ABS de série, é de 15,3 mil dólares canadenses. Isso dá mais ou menos R$ 26,4 mil. Se juntarmos a esse valor os 1.350 do ar-condicionado, chegaremos a 16,65 mil dólares canadenses. Dá, em reais, cerca de R$ 28,71 mil. O mesmo carro, no Brasil, custa R$ 56,39 mil. Quase o dobro.
Também há veículos brasileiros à venda no Marrocos, os brasileiríssimos Gol e Fox. O primeiro, também vendido por lá com motor 1-litro e apenas duas portas, mas com direção hidráulica, vidros e travas elétricas, toca-CD com MP3, aquecimento e limpador e desembaçador traseiro, sai por 119 mil durhans, ou cerca de R$ 29,4 mil. No Brasil, o mesmo carro custaria R$ 28,88 mil. Foi o primeiro caso de carro brasileiro vendido mais caro no exterior que encontramos. Ainda assim, por pouca diferença.
O mesmo poderia acontecer com o Fox, mas não foi assim. Também com motor 1-litro, mas bem mais completo, ou seja, com cinco portas, ar-condicionado, toca-CD, direção hidráulica, vidros, travas e retrovisores elétricos, o carro é vendido no Marrocos a 148,5 mil durhans, o que equivale a R$ 36,7 mil. No Brasil, o Fox com o mesmo nível de equipamentos custa, no mínimo, R$ 42,59 mil.
Como quem vem acompanhando essa série especial já deve estar exausto de ver como carros brasileiros custam menos em países como México, Argentina e Chile, na semana que vem tentaremos explicar por que os brasileiros gastam tanto dinheiro a mais pelo direito de se locomover. E, como adiantamos, não é só porque os impostos no Brasil são altos. Se o problema todo fosse só esse...
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