15 de mai. de 2010

Medo de dirigir: o julgamento do outro.

Superando a impressão de que todos sabem que você não sabe.

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Na recepção da Clínica Escola Cecília Bellina, parceira do site WebMotors no desafio Coragem de Dirigir, uma aluna se preparava para sua primeira aula no carro. Enquanto aguardava o Assistente Terapêutico (AT), ela se agitava no sofá. Entre várias cruzadas de pernas e braços, quis saber se eu também era iniciante ou se já estava na etapa final daquela angústia. Antes de ter a resposta, ela adiantou: “porque eu não sei nada, absolutamente nada, estou apavorada”. Eu conhecia bem aquele fantasma, foi assim também no meu primeiro dia, primeiros meses e, quase um ano depois, vez ou outra, ele ainda me sussurra com hálito frio: ...você não sabe o suficiente.

“Qual o problema em não saber?” Ouvi essa pergunta muitas vezes de Fabiana Saghi, terapeuta que me acompanhava nas aulas de volante no carro. “Você não sabe mesmo, está aprendendo, está vivendo o processo que todos os outros motoristas viveram, ainda que muitos tenham se esquecido disso”.

A crença equivocada e cristalizada de que a ausência de perfeição deve inibir a ação pode começar a ceder com o auxílio de um especialista. Ele nos ajuda a desenvolver confiança e maturidade para nos blindar contra opiniões destrutivas. Aceitar e ser tolerante com os próprios erros nos abre para a compreensão e aceitação de que os outros motoristas também estão sujeitos a errar, o que nos coloca outro desafio: devemos, além de superar o medo, aprender a dirigir preventivamente.

Medo de dirigir: 6 em cada 100

De acordo com dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), a cada 100 pessoas habilitadas, seis têm medo de dirigir. As 94 restantes dirigem bem? As estatísticas apontam que coragem não é o mesmo que competência. Segundo pesquisa da Fundação Seade, os acidentes de trânsito são, pela primeira vez em 20 anos, a principal causa de morte em São Paulo.

Diante dessa realidade, ter consciência de que não sabemos é mais uma virtude do que um demérito. Aceitar que não sabemos – e estamos dispostos a aprender – é uma medida de segurança. Na autoescola somos capacitados a passar no exame do Detran, não a dirigir. Enquanto as coisas em terras tupiniquins não mudam, é preciso dar, por conta própria, um passo a mais.

Depois aceitar viver o passo-a-passo que qualquer aprendizado exige, eu me permiti a seguinte elucubração – e resposta à moça agitada na recepção da Clínica: eu me orgulho de saber que nunca saberei o suficiente, que sempre haverá algo a aprender, e eu só pude olhar para isso graças ao meu medo de dirigir. No avesso dele, descobri a coragem que cura; enquanto muitos, infelizmente, ainda se orgulham da coragem que põe vidas em risco.


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